segunda-feira, 18 de junho de 2007

Perdida em seu ventre, a Clara morreu pelo avesso. Seu útero espalhou-se pelo asfalto quente, calor, ela se lembra. Não se esquece, Clara despedaçada sobre a cama. Desfalece entre guardados, filhos, lençóis. Mas isso não é esquecer. Argumenta. Sua boca larga tinha força pra dizer. Onde escondeu-se a fragilidade de Clara. Se o ventre, terra preta e enxada, se o pequeno porte fechou-se em ferida. Se a vida agora estava debruçada sobre seu corpo cheia de cuidados, para que não doa. Sopra. Sem tocar a pele para que não se abra. Sem olhar os ossos para que não se quebrem. Sem que se façam perguntas. Converse em silêncio para que Clara responda, dentro da sala, o corpo que alguém ousa dizer frágil. Não. Sutil tavez, a conversa os ossos os olhos que vão longe. Não toque Clara, avisa a placa, o pequeno pássaro corajoso que não exita em falar alto, padece com coragem e aguarda o sopro para expirar a última fumaça violeta de dentro da sala escura de seus pulmões, por enquanto, repousa sobre a palma de cada uma de suas mãos.

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